Recentemente, em Petrópolis, ocorreu uma tragédia, no dia 15 de fevereiro, devido a um temporal com mais de 200 vidas perdidas, residências destruídas, local de trabalho arruinado, projetos desfeitos e, diante destas perdas, vem a dor do luto.
Muitos sentimentos podem ser identificados como a tristeza, impotência, raiva, saudade, entre outros, um enorme sofrimento.
No meio deste caos de sentimentos vem a necessidade de reconstruir o mundo sem essa pessoa ou sem a referência que gera a dor, o luto.
Focando na perda de um modo geral, pois pode estar relacionada a outras perdas como o do trabalho, posição social, divórcio, término de uma amizade, doença, enfim, ela é insuportável, é um grande sofrimento.
Importante, neste momento, que a perda seja sentida, vivenciada buscando a elaboração do luto.
Destaco a psiquiatra suíça Elizabeth Kübler-Ross que, nos anos 60, fala que “podemos compreender melhor os sintomas do luto e diante disso, mostrar ao enlutado que o que ele sente faz parte de um processo biopsicossocial diante de uma perda significativa”.
Dra Elizabeth apontou cinco estágios do luto ou da perda:
1- Negação e isolamento, quando temos a sensação de que aquela pessoa que perdemos pode entrar a qualquer momento pela porta. É um mecanismo de defesa, momento em que temos dificuldade em aceitar, acreditar que realmente aconteceu.
2- Cólera ou raiva, quando a inconformidade dá lugar à revolta, a sentimentos como raiva e ressentimento, quase sempre projetados no ambiente externo.
3- Barganha ou Negociação interna, fase em que faríamos tudo que as coisas voltassem a ser como eram antes, sem perda, sem dor.
4- Depressão, o momento de tristeza profunda, desolação, desesperança, medo. Ocorre aqui um período de introspecção e necessidade de isolamento. O choro constante muitas vezes vem acompanhado de pensamentos como: “Nada mais vale à pena”, ou “Não consigo lidar com isso”.
5- Aceitação, quando o sofrimento não é tão debilitante, e aprendemos com a dor, nos preparamos para seguir em frente, para voltarmos às nossas atividades. A mente, mais clara, abre espaço para pensamentos como “tudo vai acabar bem”.
Para Dra. Elizabeth as fases não são lineares e nem mesmo acontecem uma em seguida a outra, há quem não passe por todas ou mesmo passe por mais de uma ao mesmo tempo.
E, falando em luto, quando passamos por uma perda significativa, o mundo que tínhamos sofre um abalo e, o que havíamos conquistado passará por uma construção biopsicossocial, ou seja, o bio = corpo/saúde, o psico = psicológico/mente, o social, bem como o espiritual passarão por adaptações ao longo do processo de luto, e haverá uma transformação, mundo este que, a cada perda significativa, passará por outro processo de construção ou reconstrução.
Portanto, por mais que doa é preciso buscar entender a perda, se permitir sofrer e reconhecer o tamanho da dor buscando transformá-la, aos poucos, em saudade voltando a se organizar e viver com esta realidade.
Como lidar com alguém em sofrimento pela perda?
A pessoa próxima, que convive com alguém que sofre a dor da perda, pode acolher, compreender, sem negar a condição da dor, sendo tolerante, permanecendo ao lado, em condição de apoio ou disponibilidade à pessoa enlutada, permitindo que essa pessoa possa falar e se abrir e não se sentir sozinha.
Luto ou Depressão?
Muitos confundem luto com depressão. Embora os sintomas sejam parecidos a diferença é de que o Luto é transitório, mas ele pode desencadear uma depressão que precisará de tratamento especializado, quer de um Psiquiatra como de um Psicólogo.
No período do luto, é desaconselhável tomar qualquer decisão importante.
Indicado nesta fase que a vivenciamos, ou seja, falamos, trocamos experiências, façamos leitura, expressamos nossa dor através de meios que fazem parte do nosso cotidiano, como desenhar, compor, escrever e orar. Cada um vivenciando suas crenças e talentos.
Como já dito o luto é um processo natural, mas quando a dor da perda evolui para um desinteresse pela própria vida, desistência de projetos pessoais, isolamento social, descuido pessoal, persistindo por mais de seis meses, é importante buscar ajuda de um Psiquiatra e de um Psicólogo.
O luto em si não causa depressão, mas uma pessoa mais vulnerável, diante da perda, poderá evoluir para a depressão.